23 de abr. de 2010

0.5

a n A  e seus equívocos
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Fila.
Sala cheia.
Feriado de carnaval e o cinema lotado,
como compreender esse absurdo moderno?

Na última fileira
a n A avistou,
quase no meio,
a poltrona que lhe espera.

Avistou também
todas as pernas,
todos os pés,
o caminho que lhe separava de sua poltrona;
sua tão esperada,
tão desejada poltrona.

Com graciozidade passa pela
constrangedora situação
de pedir licença,
por favor,
pisar no pé de alguém,
desculpa,
perguntar se a poltrona está vazia
(mesmo vendo que ali não há ninguém).

Senta!
Se acomoda,
os preparativos habituais:
desliga os celulares (são 2),
veste o óculos de grau,
pega a blusa de frio,
põe a mochila no chão.

R E S P I R A !
Olha para a sua frente.

Passam 3 crônometrados minutos
e  a n A constata:
"não gostei do lugar"...

Olha
à direita
à esquerda,
um mar de pernas,
pessoas gordas,
pipocas,
refrigerantes,
sente-se a desgraçada em situação!

Suas mãos ficam de imediato geladas, molhadas;
o suor frio, tenso...

A mente lhe impõe a questão crucial:
Devo sacrificar o meu filme
para evitar o constrangimento de mudar de lugar?

Em um suspiro
acompanhado de um riso nervoso,
tímido, gracioso,
a n A pergunta para o cara ao seu lado:
"Vai ser muito engraçado se eu trocar de lugar?"

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